quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Cálcio, vitamina D e magnésio: segredos biológicos

O consumo de cálcio, sua biodisponibilidade e sua carência na sociedade atual, avaliados em conjunto com as necessidades de vitamina D e magnésio

Ricardo B. Marques
Biólogo. Professor de Biologia Celular e Molecular. Membro da American Society for Biochemistry and Molecular Biology (ASBMB, USA) e da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC).


Deficiências nutricionais na sociedade moderna

A importância dos sais minerais para o organismo é conhecida há bastante tempo. As informações a respeito eram, a princípio, obviamente limitadas, baseadas quase unicamente na observação empírica, numa curiosa mistura de fatos científicos com crendices populares. Hoje, entretanto, após séculos de testes, experiências e pesquisas, e embora ainda haja muito a se estudar e compreender, não resta dúvida de que já dispomos de um conhecimento razoavelmente consolidado a respeito da função de cada elemento químico para as células e para o corpo.

Em contrapartida, tal conhecimento parece, ainda, carecer de uma adequada aplicação, tanto por parte da população leiga, quanto pela maioria dos profissionais da área de saúde – inclusive a comunidade médica, a tal ponto de não serem poucos os equívocos de diagnóstico e/ou de condutas terapêuticas para com pacientes que poderiam se prevenir ou pelo menos controlar diversas enfermidades através da correção nutricional, especialmente com o uso responsável de suplementos de alta tecnologia e qualidade. Foi essa constatação que surpreendeu o Dr. Ray Strand, médico e escritor norte-americano conhecido por sua atual – e consistente – postura em favor de terapias com suplementos nutricionais de alta tecnologia para prevenção e controle de diversas doenças, e pelos casos impressionantes de sucesso que tem obtido com seus pacientes, isso após haver combatido por quase 30 anos o uso de suplementos. Em seu livro (1), o Dr. Strand faz um mea culpa e explica como e por que a maioria dos médicos ainda não compreende, e por isso mesmo não aplica os fundamentos da nutrição celular e molecular, comentando as perdas que isso acarreta. Tal fato remete à seguinte percepção: se no meio médico a desinformação sobre essa área persiste tanto, é compreensível que em outros círculos se ignore ainda mais o papel preponderante dos nutrientes na saúde – fato que vem mudando, é verdade; contudo, lentamente.

Dentre a diversidade de nutrientes objetos desse desconhecimento está, por exemplo, o cálcio. Evidência disso é o fato das pesquisas revelarem carência desse importante elemento em parte considerável da população. Simões et al (2) comentam que, no Brasil, investigações relativas à ingestão de cálcio por crianças e adolescentes de diferentes regiões indicam resultados nada otimistas, pois os resultados demonstraram que não foram alcançadas as recomendações para ingestão desse importante mineral.

O problema, porém, não se restringe à deficiência do cálcio na dieta, uma vez que se deve admitir que em alguns estratos da população de algumas regiões há pessoas consumindo alimentos ricos nesse elemento. A questão parece mais complexa e inclui modificações fisiológicas no organismo e condições metabólicas que interferem na biodisponibilidade (capacidade do organismo de aproveitar bem o nutriente); tais modificações e condições, influenciadas por fatores diretos e indiretos, causam perda de cálcio, de maneira que não são raros indivíduos consumindo doses adequadas de cálcio e, mesmo assim, apresentarem carência do mesmo. Ronsein et al (3) demonstram que o estresse é um desses fatores capazes de modificar o metabolismo de vários nutrientes, como vitaminas do complexo B, cálcio, magnésio, ferro, zinco, entre outros; segundo os autores, quando estamos estressados, além de se alterar a nossa fisiologia, ainda tendemos a negligenciar nossa dieta e, então, piorar essa condição patológica pela ingestão inadequada de minerais. Já ficou estabelecido que deficiências desses minerais estão ligadas a uma grande variedade de disfunções, que vão desde a infertilidade e redução do crescimento, até a úlcera, hipertensão arterial e doença isquêmica do coração. Funções de tamanha importância deveriam remeter a população e os profissionais da área de saúde a buscarem maior informação e formação em nutrição celular e molecular, mas o que acontece é o contrário: são muitas as lacunas. Caso típico de desinformação é assistirmos pessoas ingerindo nutrientes em combinação com outros que podem afetar sua biodisponibilidade – nesse caso, por exemplo, é possível alguém tornar-se anêmico mesmo consumindo ferro em quantidade, ou ter problemas de carência de cálcio mesmo tendo boas fontes do mesmo em sua dieta.

Osteoporose

A osteoporose é uma doença grave, debilitante, caracterizada pela desmineralização dos ossos a ponto de deixá-los excessivamente frágeis e facilmente sensíveis a fraturas. Muito se fala sobre osteoporose, mas poucos sabem que geralmente ela não é causada pela deficiência de cálcio na dieta, e sim por uma perda excessiva desse mineral. Lee & Hopkins (4) informam que se pode ingerir todo o cálcio que se queira, mas que, se a sua dieta e o seu estilo de vida não forem saudáveis, ou se você estiver tomando remédios que causem perda de cálcio, seus ossos ainda estarão perdendo mais desse mineral do que o teor que estiver sendo consumido nas refeições.

O próprio uso de suplementos costuma ser equivocado, não só pelo fato de a maioria ser sintética e de baixa biodisponibilidade, ou por serem consumidos em dosagens inadequadas, ou por serem contaminados por toxinas (caso do cálcio de ostras, comumente contaminados por toxinas diversas), ou por não disporem das combinações ideais dos componentes, mas também porque se ignora a influência de outros fatores, dentre eles a ingestão de alimentos prejudiciais. Lee & Hopkins (4) fazem referência, por exemplo, ao estrago que o açúcar faz no corpo de um adolescente em desenvolvimento, ou mesmo no organismo de um adulto, na opinião deles chegando a superar, em muito, qualquer benefício que possa advir de uma suplementação de cálcio. Daí deduz-se que a boa saúde nutricional se obtém mediante um programa integrado de alimentação e suplementação previamente planejado, e não simplesmente pela decisão de se ingerir, isoladamente, um elemento que se acredite estar em falta no organismo. Seria o caso de se perguntar: de que adianta alguém com osteoporose se suplementar de cálcio enquanto se permite agredir o organismo com altas doses de açúcares?

Por outro lado, os hábitos alimentares da atual sociedade representam um fator complicador na busca de uma boa nutrição. Isso pode ser bem ilustrado no caso do cálcio, em que a maioria das pessoas, assim como dos profissionais de saúde, vê no consumo de leite e seus derivados a solução definitiva para prevenir e/ou remediar a desmineralização óssea. Entretanto, Lee & Hopkins (4) alertam, por exemplo, para que não se dependa somente do leite para obter o cálcio pretendido, pois o leite tem uma baixa relação cálcio/magnésio, e o organismo necessita de certa quantidade de magnésio para que o cálcio possa se fixar nos ossos. Curiosamente, verifica-se que boa parte dos médicos não inclui o magnésio nos suplementos de cálcio que receitam para seus pacientes de osteopenia e osteoporose. Além disso, há de se considerar os inconvenientes típicos do consumo de leite de animais, como o fato do teor nutricional não ser o adequado para um ser humano, bem como pelos transtornos alérgicos e/ou digestórios que o leite de animais causa aos humanos jovens e adultos, já que, como todos os demais mamíferos da Terra, fomos biologicamente feitos para digerir certos componentes do leite apenas na infância e, principalmente, na fase da amamentação. Considere-se, ainda, o fato de que o leite para o qual fomos feitos para consumir é o materno, e não o de vaca ou de outro animal.

Ainda para Lee & Hopkins (4), a ingestão adequada de cálcio é, sim, um fator importante na prevenção da osteoporose, porém alertam para alguns “ladrões” desse elemento, a exemplo dos refrigerantes, ricos em fosfato, que os autores classificam como “um dos principais contribuintes para a osteoporose”, uma vez que pesquisas têm mostrado uma relação direta entre excesso de fósforo e perda de cálcio. O mesmo acontece com o consumo excessivo de carnes, também ricas em fósforo, e tratamentos em longo prazo com cortisonas sintéticas. Nesse último caso, as moléculas de glicocorticóides se parecem muito com as de progesterona, de maneira que ambas parecem competir pelos mesmos receptores nas células formadoras de ossos; o problema é que a progesterona transmite a mensagem para que os ossos cresçam, enquanto os corticóides enviam a mensagem para que parem de crescer – por isso seria mais recomendável que os médicos receitassem hidrocortisona, que é natural e de baixa dosagem, do que cortisonas sintéticas. Outro aspecto fundamental na prevenção e/ou controle da perda óssea são os exercícios físicos, uma vez que há uma relação intrínseca entre o sedentarismo e a osteoporose.

Para Silva et al (5) a puberdade se destaca como um período crucial para a aquisição do conteúdo mineral ósseo. Embora não haja consenso sobre a idade em que o pico de massa óssea ocorre, vários autores consideram a infância e a adolescência como os períodos de maior aumento na massa óssea, para ambos os sexos, já havendo sido descrito que, durante as transformações dos eventos da puberdade, os adolescentes acumulam 40% de sua massa óssea total. Estes autores defendem uma intervenção nutricional precoce com o objetivo de prevenir o aparecimento de quadros de osteoporose, pois, embora essa doença se manifeste nos idosos, a predisposição para ela tem início na infância e na adolescência. O tecido ósseo, como outros, apresenta um processo de maturação que se estende das primeiras semanas de vida embrionária até a idade adulta, e pesquisadores defendem que a mineralização óssea começa na vida fetal e continua durante a infância e a adolescência, quando então se estabiliza, entre 21 e 25 anos de idade. Já o crescimento ósseo se caracteriza por uma remodelação constante, através de ganho e perda de massa óssea, sendo a mineralização óssea um processo cíclico de produção e reabsorção, cujo equilíbrio se modifica ao longo da vida.

Na fase da infância e adolescência, a formação óssea predomina sobre a reabsorção; na idade adulta, ambos os processos se estabilizam; a partir dos 45 a 50 anos, principalmente nas mulheres, quem predomina é a reabsorção. Percebe-se, portanto, que a relação entre cálcio e ossos não é estática, mas dinâmica, de forma que os ossos não são simples acúmulo do mineral, mas tecidos vivos que recebem e liberam cálcio constantemente. Se o processo de retenção/fixação e de reabsorção/retirada for desregulado por algum fator, ocorre perda de massa óssea, podendo resultar em osteoporose. É por isso que Silva et al (5) ressaltam que o risco de osteoporose pode ser reduzido se houver uma preocupação em aumentar a massa óssea durante a infância e a adolescência, cuidando-se, posteriormente, da taxa de perda óssea pós-puberdade, com especial atenção aos fatores que afetam negativamente a densidade mineral óssea durante a fase de crescimento. Os referidos autores chamam a atenção para o fato de que a adolescência é uma fase marcada por mudanças nas preferências alimentares e por diversos questionamentos, influências, pressões e modificações, que fazem deste um período de risco nutricional, devendo este aspecto suscitar maiores cuidados e atenção por parte da família e demais círculos de influência.


Cálcio

O cálcio é um dos minerais mais importantes e de maior demanda no organismo. Embora popularmente se imagine que a função dele seja apenas compor a estrutura óssea e dos dentes, a verdade é que está envolvido numa série de funções de alta relevância, a exemplo da contração muscular, do impulso nervoso e da coagulação sangüínea, entre várias outras. Em 2003 um grupo de pesquisadores (6) da UFMG (Brasil) e da Universidade de Yale (EUA) descobriu uma estrutura no interior do núcleo das células que armazena cálcio. Embora ainda haja muitos esclarecimentos a serem feitos após essa descoberta, as notícias ressaltam a grande importância desse mineral. Melo (7) cita a pesquisadora da UFMG, Maria de Fátima Leite: “O aumento da concentração de cálcio em cada área define uma função diferente a ser executada pela célula”, e explica que “o cálcio modula funções como proliferação e diferenciação celulares, ativação e transcrição de genes, apoptose (morte programada das células), síntese de proteínas, secreção hormonal e contração muscular” – acredita-se que esse elemento deve regular prioritariamente a expressão de alguns genes e até influenciar a própria estrutura do DNA. Por sua vez, Azevedo (8) informa: “O cálcio é um gatilho biológico. Uma vez acionado na hora e na quantidade certas, ele ativa determinadas partes do DNA. O cálcio regula os batimentos do coração, o movimento de braços e pernas, o piscar dos olhos, enfim, cada movimento de nossos músculos. E faz mais: também está ligado, por exemplo, à liberação dos hormônios, como a insulina, e ao próprio ritmo de vida e morte das células”.

A hipocalcemia (deficiência de cálcio) é caracterizada por um conjunto variável de sintomas, descritos com propriedade por Arioli & Correa (9). De acordo com esses autores, a manifestação clínica da hipocalcemia aguda é a crise de tetania (excitabilidade neuromuscular exacerbada), em geral precedida de formigamento e adormecimento no entorno da boca e das extremidades do corpo, e de contrações dolorosas de músculos isolados ou de grupos musculares. A crise pode ser acompanhada de sudorese (suor excessivo), cólicas abdominais, vômitos e broncoespasmo, provavelmente por causa da disfunção do sistema nervoso autônomo. Já nas crianças, o espasmo da laringe pode ser a única manifestação de tetania. Pode haver convulsões em pessoas predispostas.

Edema (inchaço) de papila tem sido descrito na hipocalcemia e, quando acompanhado de quadro convulsivo, pode fazer o médico confundir com tumor cerebral.

Têm sido descritos vários distúrbios mentais em quadros de hipocalcemia, como depressão mental, irritabilidade, nervosismo e ansiedade. A pele pode ficar seca, acompanhada de queda de cabelo e unhas quebradiças. As alterações dos dentes ou defeitos no esmalte podem orientar a época de aparecimento da hipocalcemia, embora não raro alguns médicos se equivoquem no diagnóstico por desconhecerem essa dimensão fisiológica, bioquímica e molecular, de um quadro de carência de cálcio.

Em 50% dos casos de pacientes não tratados pode haver formação de catarata, tanto precocemente quanto após vários anos. Não é incomum que a densidade óssea se mostre normal, e às vezes até um pouco aumentada. Em certos casos surge comprometimento cardíaco. Na gravidez, na lactação e no período menstrual pode-se ter um agravamento desses sintomas, e as manifestações de tetania nem sempre são muito evidentes.

O consumo de cálcio deve ser feito observando-se a maneira como ele interage com outras substâncias, pois algumas encontradas em certos alimentos reduzem a absorção do mesmo. É o caso, por exemplo, dos fitatos, encontrados na película externa dos grãos de cereais, e dos oxalatos, presentes na beterraba, acelga, espinafre etc. O estresse também aumenta a excreção de cálcio e incrementa sua perda. Vários medicamentos afetam a biodisponibilidade de cálcio no organismo, como os corticóides sintéticos citados anteriormente, e certos tipos de antiácidos. O uso excessivo de refrigerantes, em particular os do tipo “cola”, é considerado um problema bastante sério, pois o excesso de fosfato prejudica o metabolismo do cálcio – estudos realizados com adolescentes comprovaram que refrigerante representa um agente de risco relevante para a ocorrência de osteoporose no futuro.

Assim como os refrigerantes, a comida industrializada é rica em fósforo, que é usado como acidulante na conservação dos alimentos. Quando chega ao intestino, o fósforo tenta entrar nas células usando o mesmo sistema de entrada do cálcio, daí impede que o cálcio passe e chegue ao sangue. Sabemos que o fósforo é um elemento também importante para o organismo, contudo nosso corpo não imaginava que inventaríamos alimentos e bebidas que nos forneceriam sobrecarga diária desse mineral, desregulando sua relação com o cálcio.

Por sua vez, Simões et al (2) alertam: uma dieta rica em fibras prejudica a absorção intestinal de cálcio, principalmente nos idosos, razão pela qual pessoas adeptas de tais dietas devem ingerir cálcio nos intervalos entre as refeições; não se deve, no entanto, por temer a má absorção do cálcio, pensar em se privar de alto teor de fibras na dieta, pois as mesmas são indispensáveis à saúde intestinal e geral do corpo, sendo, inclusive, um dos principais fatores na prevenção do câncer de cólon e reto. A resposta é consumir a fonte de cálcio em horários diferentes dos da ingestão de fibras.

Também o excesso de gorduras deve ser evitado quando se consome cálcio, pois os ácidos biliares fazem das gorduras uma espécie de “pasta” com a qual o cálcio se mistura, formando sais insolúveis, que não conseguem ser absorvidos e acabam sendo eliminados pelas fezes. Portanto, aos que ingerem, por exemplo, suplementos de Ômega-3, não é recomendável que o cálcio seja tomado em horários próximos à ingestão destes óleos, assim como nenhum dos dois deve ser ingerido na proximidade do consumo de fibras.

A cafeína é uma reconhecida “ladra” de cálcio e considerada uma das substâncias que, devido ao consumo excessivo, induz à osteoporose.

O álcool prejudica a absorção por ser irritante da parede intestinal e aumenta a excreção urinária do cálcio; e como prejudica a formação da vitamina D no fígado, por conseqüência reduz a absorção do mineral.

No tabaco, a nicotina atua na parede dos vasos, prejudicando a absorção, a excreção renal e o transporte do cálcio até aos ossos.

Por outro lado, Lee & Hopkins (4) recomendam que não se tome antiácidos com alumínio e não se use panelas de alumínio, argumentando que já foi bem demonstrado que pequenas quantidades de antiácidos contendo alumínio, assim como partículas microscópicas de alumínio que se desprendem nas panelas, aumentam a excreção urinária e fecal de cálcio e inibem a absorção de flúor e de fósforo, criando um saldo negativo de cálcio – então o cálcio acaba sendo excretado, em vez de ser utilizado.

Já os diuréticos são medicamentos ou substâncias que causam perda de água no corpo; como junto com a água também perdemos minerais, principalmente cálcio, magnésio e potássio, pessoas que fazem muito uso de diuréticos podem desenvolver perda óssea e ter maiores riscos de fraturas.

E Simões et al (2) explicam que, especialmente em adultos, a ingestão de sódio é considerada um fator de risco para a perda urinária de cálcio, e para a reabsorção de cálcio ósseo.


Vitamina D

Sendo a vitamina D, juntamente com o magnésio, substâncias indispensáveis ao metabolismo do cálcio, não podemos deixar de nos referirmos a elas e associá-las aos processos discutidos nesse artigo.

Vitamina D é o nome geral dado a um grupo de compostos lipossolúveis, também conhecidos como calciferol e vitamina antiraquítica, que são essenciais para manter o equilíbrio mineral no corpo. Suas formas ativas principais são a vitamina D2 (ergocalciferol, de origem vegetal) e vitamina D3 (colecalciferol, de origem animal).

Segundo Lee & Hopkins (4), a melhor maneira de se obter vitamina D é através da exposição direta da pele à luz do sol. A luz solar estimula uma cadeia de eventos na pele que leva à produção de vitamina D pelo fígado e pelos rins (é por isso que doenças dos rins e fígado podem causar uma deficiência de vitamina D). A questão é que o estilo de vida da maioria das pessoas hoje em dia, saindo cedo de casa, corpo coberto por roupas e em geral no interior de veículos, e retornando para casa à noite, tem-nas feito perder os benefícios da luz solar. Todavia, a situação se complica ainda mais se as pessoas se expõem ao sol em horários péssimos para a saúde (entre 10h e 16h), sofrendo com o fotoenvelhecimento e arriscando-se a contrair um câncer de pele.

A vitamina D funciona como um hormônio, que dá ordem às células do intestino de produzirem uma proteína, que vai servir de transporte para o cálcio até o sangue, a partir de onde ele chegará às células. É necessária para a absorção do cálcio e do fósforo no intestino grosso, para a sua mobilização a partir dos ossos e a para a sua reabsorção nos rins – com isso a vitamina D tem um papel importante em assegurar o funcionamento correto dos músculos, nervos, coagulação do sangue, crescimento celular e utilização de energia.

Tem sido proposto que a vitamina D é também importante para a secreção de insulina e prolactina, resposta imunitária e ao estresse, síntese da melanina e para a diferenciação das células da pele e do sangue. Sendo lipossolúvel, a absorção de vitamina D também depende da absorção de gordura. Se a pessoa tiver alguma dificuldade na absorção de gorduras, ou se a ingestão da vitamina for sempre simultânea à de fibras (certos tipos de fibras “capturam” gorduras), haverá deficiência desse nutriente no organismo.

A deficiência de vitamina D pode produzir uma variedade de sintomas, como: níveis séricos reduzidos de cálcio e fósforo; aumento da atividade da fosfatase alcalina; fraqueza muscular e tetania; riscos acrescidos de infecção. Em crianças pode haver sintomas como: inquietação, irritabilidade, sudação excessiva, diminuição do apetite. Em idosos, o mais comum são ossos quebradiços. Mas as manifestações mais conhecidas de deficiência de vitamina D são o raquitismo (nas crianças) e a osteomalácia (nos adultos), ambas caracterizadas pela perda de mineral a partir dos ossos, resultando em deformidades do esqueleto; o crescimento pode ser retardado e pode haver mineralização inadequada do esmalte dentário e da dentina.


Magnésio

O papel fisiológico do magnésio é vital, pois atua na duplicação dos ácidos nucléicos, na síntese de proteínas (nenhuma proteína é formada em nosso corpo, a partir dos aminoácidos, sem a presença adequada de magnésio), na transmissão do impulso nervoso, na contração muscular, na coagulação do sangue, na remoção de substâncias tóxicas (por exemplo: amônia), na prevenção de doenças cardíacas e arritmias, na conversão de carboidratos, proteínas e gorduras para produção de energia, na ativação de mais de 400 enzimas que controlam nosso metabolismo etc. Sendo um dos minerais mais abundantes no corpo humano, cerca de 70% se distribui no tecido ósseo e o restante nos tecidos moles (músculos, tecido nervoso, vísceras), no fluido extracelular e nas secreções digestivas. É vital para o metabolismo do cálcio, da vitamina C, do fósforo, do sódio e do potássio.

Lee & Hopkins (4) avisam que sem magnésio o cálcio não consegue formar ossos fortes, e que a deficiência de magnésio pode ser mais comum na mulher com osteoporose do que a deficiência de cálcio. Embora muitas frutas e hortaliças contenham algum magnésio, as fontes mais ricas nesse mineral são os grãos integrais, farelo de trigo, verduras com folhas verdes, castanhas, feijões, banana e damasco. Para ser incorporado aos ossos, o cálcio requer a ajuda de enzimas, as quais precisam de magnésio e vitamina B6 para funcionar adequadamente.

Embora muita gente não saiba, é mais freqüente termos carência de magnésio e de vitamina B6 do que de cálcio, e isso, na maior parte dos casos, se deve aos maus hábitos alimentares que caracterizam a sociedade atual, somados à má qualidade dos solos e do plantio, cultivo, colheita, transporte e acondicionamento dos alimentos, que, por isso, não mais nos garantem os nutrientes que deveriam.

O solo pobre em magnésio e o uso de adubos químicos N.P.K (nitrogênio, fósforo e potássio) são responsáveis pelo déficit de magnésio em muitos alimentos (por antagonismo, o nível de potássio absorvido pela planta inibe a absorção do magnésio). Outros fatores são: consumo excessivo de gorduras saturadas, laticínios e proteínas na alimentação diária; prática de esportes ou de exercícios de alta intensidade, que provocam muita sudorese; regimes de emagrecimento prolongados (a maioria das dietas restringe o consumo de diversos alimentos que são fontes básicas de nutrientes, ao mesmo tempo em que não garantem a reposição dos mesmos com suplementos de alta qualidade e tecnologia; isso gera carência nutricional e conseqüentes enfermidades associadas – reduz-se peso à custa de comprometimento, às vezes sério e silencioso, da saúde); uso habitual de diuréticos e relaxantes; mulheres que fazem uso regular de pílulas anticoncepcionais ou reposição de estrógeno; elevado consumo de bebidas alcoólicas e ou excesso de refrigerantes à base de cola; dietas ricas em carboidratos (açúcares) e sal; estados freqüentes de ansiedade e estresse; consumo exacerbado de cálcio.

Silva et al (5) chamam atenção para o fato de que o magnésio deve ser mantido em níveis adequados principalmente durante a adolescência, visto que é citado como coadjuvante fundamental no processo de mineralização óssea, já que aproximadamente um terço do magnésio corporal encontra-se nos ossos.

Ronsein et al (3) informam que as pesquisas têm demonstrado que pessoas estressadas do tipo agressivas, ambiciosas, competitivas, que vivem sob tensão, têm constante déficit do magnésio muscular. Portanto, uma ingestão adequada de magnésio é essencial para manter as artérias relaxadas, a pressão arterial baixa e os batimentos cardíacos regulares. Esse mineral também reduz os radicais livres, estabilizando a capacidade de aglutinação de plaquetas sangüíneas, de onde se conclui que a carência desse elemento leva o indivíduo a ter maiores chances de trombose. A deficiência pode também levar à anorexia, apatia, náuseas, hiperatividade neuromuscular, tiques nervosos e cãibras, dores de cabeça, vertigens, tremores nas pálpebras, distúrbios glandulares, lentidão no funcionamento do fígado, micções noturnas, problemas de próstata, contrações da vesícula biliar, inibição da síntese de DNA e RNA, desorientação, fadiga, insônia, calcificação nos tecidos, arritmias cardíacas e até mesmo parada cardíaca.

Como os rins excretam o magnésio com muita facilidade, raramente irá ocorrer intoxicação por excesso do mesmo; mas, caso extraordinariamente aconteça, especialmente quando se usa suplementos de baixa qualidade e sem garantia de alta tecnologia de produção, o excesso pode levar ao colapso do sistema nervoso central.

O cálcio e o magnésio formam importantíssimo equilíbrio entre líquidos extra e intracelulares. Quando existe uma carência de magnésio, o cálcio se desequilibra e, em lugar de se fixar nos ossos, é eliminado ou se deposita em várias partes do organismo. Com o tempo, vai formando calcificações como, por exemplo, nas paredes das artérias, causando a arteriosclerose; nas articulações ósseas; nos rins e na vesícula, formando "pedras"; nos seios e nos pulmões, formando cistos; como sua carência gera maior probabilidade de aglutinação de plaquetas, predispõe o indivíduo a coágulos e conseqüentes tromboses, provocando sintomas de perda de memória, da visão e transtornos da audição, mesmo em pessoas jovens.


Suplementação nutricional

Argumentam Simões et al (2) que muitas vezes é difícil obter a quantidade necessária de cálcio apenas pela dieta, pelo que indicam a suplementação através dos sais mais comumente utilizados, que são os de carbonato de cálcio. Esses contêm 40% de cálcio elementar e precisam de meio ácido para ser solubilizados, sendo ideal se forem ingeridos durante as refeições.

Estudos mostraram que o tratamento, durante dois anos, com cálcio e vitamina D aumentou a massa óssea, e esse aumento foi detectado através da avaliação ultrassonográfica em pessoas idosas. É feito, entretanto, o alerta de que o cálcio fabricado em laboratório não se absorve bem, porque não é orgânico, daí a necessidade de se ter garantia de um suplemento de alta tecnologia e qualidade, salvaguardado por uma companhia composta por um corpo científico renomado na área cujos membros tenham um nome e uma carreira a zelar, de preferência ligados a universidades de ponta, em contraposição ao lobby alopático da indústria farmacêutica e em sentido contrário ao de empresas nacionais e internacionais produtoras de suplementos e que, visando apenas o lucro, produzem suplementos de baixa biodisponibilidade, não raro acrescidos de substâncias químicas prejudiciais e contaminantes.

Embora muitos médicos ainda receitem apenas a combinação do cálcio com vitamina D, pelos motivos já exaustivamente expostos, a associação com magnésio é imprescindível, inclusive evitando a tendência à constipação e à deposição do cálcio excedente que forma cálculos renais. Os autores referidos citam, ainda, a importância de suplementação de vitamina D para favorecimento da formação óssea e da absorção intestinal do cálcio, fosfato e magnésio, produzindo resultados de aumento da massa óssea e diminuição do risco de fraturas.

Zaire et al (10) dizem que o ideal seria que o carbonato de cálcio fosse tomado junto com as refeições, pois ao chegar ao estômago, ele é transformado em cloreto de cálcio; com o aumento da secreção ácida estomacal, que acontece logo após a refeição, mais cloreto de cálcio se forma. O cloreto de cálcio é solúvel e absorvível, enquanto o carbonato não é, por isso o aproveitamento do primeiro é bem melhor. Entretanto, se a refeição for rica em fibras, como na realidade deve ser quase sempre, a ingestão concomitante do cálcio não é adequada, pois as fibras reduzirão a absorção do mineral. A solução é consumir o cálcio no intervalo entre as principais refeições, mas de preferência junto com algum alimento não-fibroso que estimule a secreção gástrica. Ao mesmo tempo, o carbonato de cálcio não deve ser ingerido com frutas ácidas (limão, laranja, abacaxi, acerola etc.) nem com espinafre ou cereais, pois o ácido oxálico (oxalato) presente nos primeiros e os fitatos, presentes nos últimos, se ligam ao cálcio e diminuem a sua absorção. A cafeína também deve ser evitada, pois aumenta a excreção urinária de cálcio.

Quando se consome cálcio em demasia pode-se chegar à hipercalcemia, uma doença caracterizada pela calcificação excessiva dos ossos e dos tecidos moles, podendo ocorrer formação de cálculos renais. Nesse sentido, mesmo se sabendo que o consumo adequado de cálcio, incluindo sua suplementação, é fundamental para a saúde, é importante se observar a dosagem diária somando-se o cálcio dos alimentos e o dos suplementos, a fim de evitar que se atinja um nível que o torne prejudicial. Simões et al (2) avisam que pacientes com história familiar ou portadores de calculose renal e aqueles com sintomas de hipercalcemia, tais como fadiga, fraqueza muscular, depressão, alteração de memória e de personalidade, anorexia, náuseas, vômitos, constipação, úlcera péptica e pancreatite recorrente, entre outros, devem ser avaliados metabolicamente por médicos antes da administração de suplementos de cálcio.

Simões et al (2) citam avaliações de retenção de cálcio em adolescentes entre 12 e 15 anos, cuja conclusão foi que, para essa faixa etária, a ingestão de cálcio deve ser de 1200 a 1500mg/dia, para garantir boa retenção do mineral. De forma similar, a Dietary Reference Intakes (DRI) de 1998 recomendam 1300mg/dia para adolescentes. O Instituto Nacional de Saúde (NIH) estabeleceu que a ingestão "ótima" de cálcio deve ser de 800mg/dia para crianças de 3 a 8 anos e 1300mg/dia para crianças e adolescentes de 9 a 17 anos, sendo recomendada a manutenção de 1000 a 1500mg/dia após essa fase da vida. O Dr. Strand recomenda uma dosagem suplementar diária de 800 a 1.500mg de cálcio (1).

Também de acordo com Simões et al (2), embora seja relativamente raro de acontecer, os efeitos colaterais que podem ocorrer com a suplementação de vitamina D são hipercalcemia (sintomas recentes: constipação severa, secura na boca, dor de cabeça, depressão, gosto metálico na boca, etc.; sintomas tardios: confusão, sonolência, aumento da sensibilidade dos olhos e pele à luz, especialmente em pacientes que fazem hemodiálise, etc.); hipercalciúria; hipotensão (tonturas); danos renais; retardamento de crescimento; calcificação de tecidos moles; irritabilidade).

Em geral se considera uma dose tóxica de vitamina D para um adulto em torno de 2,5 mg (100.000 IU) diariamente durante 1 a 2 meses; para as crianças a dose tóxica está entre 0,5 mg (20.000 IU) e 1,0 mg (40.000 IU). No entanto, certos indivíduos têm uma sensibilidade elevada à vitamina D e apresentam sintomas de toxicidade com apenas 50 mcg (2.000 IU). É preciso, porém, chamar atenção para o fato de que, com as formulações contendo teores equilibrados de cálcio, vitamina D e magnésio, e que garantam a qualidade e a alta tecnologia, dificilmente essas substâncias atingirão níveis de excesso.

A dose mais usualmente recomendada de ingestão diária de vitamina D é de 5 microgramas. A partir de 50 anos deve-se subir para 10 microgramas, e com mais de 70 anos, 15 microgramas. O Comitê de Alimentação e Nutrição do Conselho Nacional de Investigação Americano recomenda uma ingestão diária de 5 mcg (200 IU) para adultos, 7,5 mcg (300 IU) para bebês com menos de 6 meses e 10 mcg (400 IU) para crianças com mais de 6 meses, grávidas e mães a amamentar. Um suplemento diário de 5 a 7,5 mcg (200 – 300 IU) é recomendado para bebês alimentados com leite materno que não tenham exposição ao sol. Mas a recomendação para adultos varia de acordo com o país, indo de 2,5 mcg (100 IU) a 11,5 mcg (450 IU). A recomendação mais elevada existe na França (20 a 30 mcg por dia para crianças de raça negra). O Dr. Strand recomenda uma dosagem suplementar diária de 800 IU de vitamina D (1).


Conclusão

Feita uma avaliação criteriosa dos fatores que influenciam a carência, o consumo, a biodisponibilidade e a efetividade do cálcio no organismo, e sua relação com a vitamina D e o magnésio, conclui-se, com base em parte da literatura médico-científica, que é relativamente comum o déficit desses nutrientes em grande parcela da população. Em face disso, os especialistas recomendam a ingestão de suplementos nutricionais contendo essas substâncias, contudo com a ressalva de que os elementos estejam dentro das combinações e dos teores perfeitamente equilibrados para a melhor biodisponibilidade dos mesmos; que sejam suplementos de alta tecnologia e excelente qualidade, e formulados e garantidos por um Conselho Médico-Científico de renome. O consumo desses suplementos deve obedecer a uma mudança, se for o caso, de hábitos alimentares e de estilo de vida que causam a perda dos nutrientes envolvidos.


Referências

1. Strand, Ray D. O que seu médico não sabe sobre medicina nutricional pode estar matando você. M. Books do Brasil Editora, São Paulo, SP, 2004.

2. Simões, C. M. O.; Ganske, J.; Morais, M. B. M. Osteoporose - Existe tratamento para a osteoporose? Em: http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=70. UFSC, 2002.

3. Ronsein, G.E.; Dutra, R.L.; Silva, E.L.; Martinello, F.; Hermes, E.M.; Balen, G.; Jorge, S.; Waltrick, C.D.A.; Silva, C.S.M.; Santos, B.M.; Leal, V.; Roldão, U. Q.; Cantos, G.A. Influência do estresse nos níveis sanguíneos de lipídios, ácido ascórbico, zinco e outros parâmetros bioquímicos. Acta Bioquím. Clín. Latinoam., v.38, n.1, La Plata, 2004.

4. Lee, John R.; Hopkins, Virginia. Osteoporose - Uma doença incapacitante, que pode ser evitada e revertida. Em: http://us.geocities.com/novatrh/osteo.html .

5. Silva, C. C. da; Teixeira, A. S.; Goldberg, T. B. L. Impacto da ingestão de cálcio sobre a mineralização óssea em adolescentes. Rev. Nutr. vol.17 no.3, Campinas, SP. 2004

6. Echevarría, Wihelma; Leite, M. Fatima; Guerra, Mateus T.; Zipfel, Warren R.; Nathanson, Michael. Regulation of calcium signals in the nucleus by a nucleoplasmic reticulum. Nature Cell Biology 5, 440 - 446 (2003).

7. Melo, Adriana. Elucidação de nova estrutura celular tem participação brasileira. Ciência Hoje on-line, em: http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1820, 2003.

8. Azevedo, A. L. Brasil descobre como fazer remédio melhor. Jornal da Ciência. Em: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=10414. 09 de Junho de 2003.

9. Arioli, Edson L.; Correa, Pedro Henrique S. Hipocalcemia. Arq Bras Endocrinol Metab, vol.43, nº.6, p.467-471, 1999.

10. Zaire, C. E. F.; Gomes, M. das N,; Seidler, R. S. Informativo sobre o medicamento carbonato de cálcio pó. Centro Regional de Informação de Medicamentos, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.

Indicação de leitura

Marchini, J. S.; Ferrioli, E.; Moriguti, J.C. Suporte nutricional no paciente idoso: definição, diagnóstico, avaliação e intervenção. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 54-61, 1998.

Nenhum comentário: