terça-feira, 21 de julho de 2009

“Provavelmente não existe Deus. Agora, pare de se preocupar e curta sua vida.”


Com essa mensagem estampada nos ônibus ingleses e em camisetas, o polêmico biólogo Richard Dawkins lançou uma campanha anti-Deus que se espalhou pela Comunidade Européia.





Dawkins e uma das “modelos” da sua agressiva campanha ateísta, apoiada por um Estado que se faz passar por “laico”, contudo promove ideologias com características tipicamente religiosas. Hoje vários filósofos e cientistas argumentam que o novo ateísmo militante é, na verdade, uma nova forma de religião, intolerante e fundamentalista, que gradualmente vem dominando governos seculares e parte considerável do meio acadêmico.

Dawkins acaba de passar duas semanas no Brasil, por ocasião do congresso da Animal Behavior Society (Sociedade de Comportamento Animal), onde foi homenageado. Antes de ir embora, fez uma conferência em Parati sobre seu livro mais polêmico: Deus, um delírio – considerado um panfleto de combate à religião.

Esse biólogo inglês, nascido no Quênia, é um dos expoentes de uma nova forma de ateísmo, caracterizado como militante, combativo, dogmático, fundamentalista, radical, intolerante, extremista, inquisidor e outros adjetivos pouco agradáveis, outrora atribuídos apenas a alguns praticantes das religiões que ele mesmo diz querer destruir.

Considerei Dawkins um “gênio” a partir do momento em que, nos tempos de faculdade, li seu primeiro e inteligente livro, O Gene Egoísta. Ele lançara um conceito novo e ousado na teoria da evolução, sendo esta minha principal área de especialidade e de trabalho como biólogo, zoólogo, etólogo e paleontólogo (xiii, parece muita coisa, né?). Após conhecer seu pensamento muito bem articulado, passei a ler todas – absolutamente todas – as suas obras seguintes, incluindo as atuais. E continuarei a fazê-lo, porém confesso que, enquanto não desenvolvi um senso mais crítico e uma maturidade científica e filosófica mais apurada, os conceitos de Dawkins tiveram, para mim, a aparência de ciência. Hoje sei que são apenas isso: aparência.


Richard Dawkins, apesar da formação, é mais filósofo do que cientista. Nas palavras dele próprio, nunca teve muito interesse na natureza em si, sendo que sua motivação em estudar biologia foi basicamente de ordem filosófica. Em outras palavras, ao que parece ele caiu de pára-quedas na abrangente e diversificada biologia com a meta de pinçar aqueles argumentos que servissem para consolidar suas crenças pessoais. Cedo se afastou da pesquisa para dedicar-se a reflexões filosóficas sobre a evolução, no interesse de aplicar sua invejável capacidade de manipulação argumentativa ao esforço de neutralizar qualquer forma de questionamento aos postulados darwinistas, que acabaram virando dogmas. Sua cátedra em Oxford, de “Compreensão Pública da Ciência”, foi criada à custa de fundos doados por um milionário húngaro-americano, revelando a poderosa máquina por trás dos interesses anticristãos e anti-religiosos. Assim, Dawkins tornou-se um “marketeiro” da evolução, inclusive fazendo uso das técnicas mais sórdidas do mundo da propaganda para fazer valer suas teses.

Dawkins é considerado, hoje, o maior defensor dos postulados de Charles Darwin, numa época em que o avanço das pesquisas tem levado muitos cientistas, a maioria de altos graus acadêmicos e mesmo evolucionistas notórios, a questionar a validade da teoria de Darwin como explicação para a origem de novas espécies. A recusa ferrenha em aceitar questionamentos ao darwinismo, o fazer-se surdo às evidências levantadas por muitos de seus colegas, a aplicação da tática de menosprezar e denegrir as vozes discordantes, e o uso de sua influência para censurar e perseguir seus opositores, tem feito com que Dawkins seja visto como autor de uma “nova inquisição” e de dogmatizar a ciência.

A propaganda de Dawkins, bem representada em Deus, um delírio, tem convencido a muitos de que a religião – em especial o cristianismo – é uma praga a ser expurgada. Mas esse convencimento dá-se, simplesmente, porque Dawkins conta com aquilo que ele mesmo diz combater: a ignorância de considerável parte das pessoas sobre os fatos. Caem, pois, como patinhos na armadilha da propaganda da sua “religião” darwinista-ateísta (o próprio Charles Darwin se revolveria no túmulo, como diz a expressão popular, se soubesse o que estão fazendo com sua teoria).

Essa propaganda de Dawkins e tantos outros que com ele se afinam é tida como sórdida porque usam distorções e engodos de maneira a parecerem verdades incontestáveis, minando as resistências ao aliarem falácias a táticas de intensa divulgação, com estratégias bem articuladas de negar espaço às vozes dissonantes. Por exemplo, cientistas respeitados, mas cujas pesquisas apontem falhas na teoria da evolução, não conseguem publicar seus trabalhos nos periódicos mais respeitados, nem espaço para falar nos congressos, nem editoras que aceitem seus livros.

Entre as jogadas de Dawkins, uma conhecida é ele fazer seu público acreditar que todo religioso é ignorante, omitindo daquele as centenas de eminentes pensadores e cientistas que fizeram/fazem a história, e que foram/são religiosos, geralmente cristãos. Não se constrange em inventar, para os crédulos leitores, que não há cientistas sérios que questionem o darwinismo, e que apenas religiosos fazem isso; contudo, Dawkins sabe haver muitos cientistas, até mais conhecedores de ciência do que ele, que têm dito ser o darwinismo incapaz de explicar a evolução das espécies. Curiosamente, e para constrangimento dele, a maior parte desses cientistas é da área biológica e não são religiosos (há uma crescente lista de centenas de assinaturas destes na Internet, em http://www.dissentfromdarwin.org/). Vale lembrar do célebre biólogo e filósofo da ciência, Stephen Jay Gould, e do reputado paleontólogo Niles Eldredge, ambos evolucionistas, mas que, rendidos à falta de evidências em favor do darwinismo, sugeriram como alternativa a teoria do “equilíbrio pontuado” – sendo que esta também não conseguiu responder às lacunas existentes. Acrescente-se, dentre tantos, o neurocientista Steven Rose, o geneticista Richard Lewontin, o astrofísco Fred Hoyle, evolucionistas, porém críticos de Dawkins.

Não é à toa que celebridades como o biofísico britânico Alister McGrath, PhD em Biofísica Molecular, que teve larga experiência com pesquisa e que descobriu a teologia cristã em sua vida, sendo professor na mesma universidade de Dawkins, tem dedicado boa parte de seu tempo em desconstruir cada argumento deste. Em seu livro O Delírio de Dawkins, McGrath põe abaixo, uma a uma, as falsas “verdades” de Deus, um delírio.

O biofísico molecular e professor de Oxford, Alister McGrath, PhD em Biofísica Molecular, em seu livro O Deus de Dawkins expõe como a defesa ardorosa do darwinismo por Richard Dawkins adquiriu características tipicamente religiosas, tornando a ciência excessivamente dogmática. E em O Delírio de Dawkins, McGrath desconstrói um a um os argumentos falaciosos que Dawkins, em Deus, um delírio, julga “incontestáveis”...

Dawkins não mede esforços para convencer o público de suas crenças anticristãs extremistas. Em seu livro chega ao ponto de comparar Moisés a Hitler, chama o Novo Testamento de “doutrina sado-masoquista” (veja: http://www.wnd.com/news/article.asp?ARTICLE_ID=48252) e ainda defende a eliminação de todas as manifestações religiosas da face da Terra. Para se justificar, cita os piores exemplos de religiosidade, menciona os piores fanáticos, ignora todo o ensino de amor, bondade e paz e as tantas virtudes pregadas pelas religiões. Aliás, virtudes estas que talvez sequer existissem sem a revelação de Deus, sem a pessoa e obra de Jesus e sem a perpetuação disso pelos discípulos de Cristo. Tenta incitar o ódio contra os cristãos a partir de estatísticas fraudadas, ao relatar atentados terroristas de supostos “cristãos ultra-fundamentalistas” a clínicas de aborto e a médicos abortistas, como se isso fosse a regra – num cômputo geral, esses extremistas representam apenas cerca de 50 pessoas, dentre 80 milhões que se declaram cristãos renascidos nos EUA. .

Há, sim, intermináveis dúvidas a respeito da origem da vida e das espécies, dúvidas que vão muito além do reducionismo perpetrado por visões opostas, como o evolucionismo fundamentalista e o criacionismo fundamentalista. Tanto em uma como na outra, as posturas assumidas se resumem mais a uma matéria de fé, e os ataques feitos são mais ideológicos do que propriamente científicos. Infelizmente a maioria dos evolucionistas não admite esse fato.

Nessa perspectiva, nos damos conta de o quanto o ateísmo de Richard Dawkins, apesar de toda a sua inteligência acadêmica, deixa de ser resultado de consenso científico para tornar-se uma posição de pura fé, mais religiosamente dogmática e pouco sustentável do que as dos religiosos a quem ele ataca. Nunca cheguei a esse nível de extremismo, muito menos de notoriedade, mas me recordo do quão inflexível eu era quando sentia ameaçada minha fé na evolução e no ateísmo, e como reagia cegamente. E sou prova viva, juntamente com milhares de outros a quem não me posso comparar, de que Deus nos ama a ponto de ignorar até nossa negação dEle, e põe em nosso caminho freqüentes oportunidades para nos depararmos com a fé e, assim, nos encontrarmos com Ele. Não é diferente com Dawkins.

Dentre estes a quem não me posso comparar está Antony Flew, filósofo mundialmente famoso por ter sido um dos maiores e mais radicais defensores do ateísmo. Na verdade, Flew é considerado uma espécie de “pai do ateísmo moderno”, por haver organizado o pensamento ateu numa estrutura filosófica muito bem firmada. Ele foi um dos que criticou C. S. Lewis quando este, que era considerado “o ateu mais empedernido”, deixou o ateísmo, convertendo-se ao cristianismo e tornando-se o grande apologeta cristão do século XX. Acontece que em 2004 Antony Flew mudou: agora era um crente em Deus. O mundo acadêmico, fortemente preconceituoso, veio abaixo. Flew afirmou ter sido confrontado pela honestidade e coerência com as evidências da existência de Deus, as quais ele não podia mais negar, nem fingir que não existiam. E fala dessas “provas incontestáveis” em seu livro Um ateu garante: Deus existe.

Richard Dawkins não é melhor do que Antony Flew nem do que C. S. Lewis e tantos outros. Portanto, ele pode ser, a qualquer momento, impactado por Deus, se tiver abertura de mente e coração honesto e sincero o suficiente.

Não consigo ter raiva de Dawkins, mesmo com tudo de tão horrível que ele diz e faz. Jesus disse que orássemos pelos nossos inimigos, e, mais do que isso, que os amássemos. É isso que tenho feito. Ou, pelo menos, tentado.

Por enquanto, procuro me manter alerta às palavras de Paulo, em sua carta a Timóteo, 6:20 – “(...) Guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos e as contradições da falsa ciência”.

5 comentários:

Fernando R Sousa disse...

Dogmatico? ah por favor, em todos os livros recentes, todos os videos, entrevistas ele sempre afirma que a ciencia não sabe tudo e que tem muito o que aprender

vcs deviam se sentir honrados em viver na mesma época que um dos maiores intelectuais de nossa especie que já passou por esse planeta...

Unknown disse...

Prezado Ricardo,
confesso que comecei a ler esta tua postagem enervado com Dawkins e também contigo.
É que somente no final entendi teu posicionamento, pelo que louvo ao nosso Senhor.
Muito embora eu tenha me convertido há pouco (8 anos), tenho a pretensão de ser um "aplicado defensor de Deus", se é que Ele precisa do meu parco conhecimento para tal intento.
Mas hoje sou capaz de dizer, parodiando um dizer principiológico do Direito, que "contra a fé não há argumentos".
No amor de Cristo, te parabenizo novamente, feliz por encontrar alguém do teu quilate, dada a extensão do teu currículo, nas trincheiras do Senhor.
Que Deus abençoe a ti e a tua família.

Evandro Gueiros disse...

Sem medo de errar, a vida familiar e profissional de Dawkins deve ser pintada de traumas, decepções, conluios, mentiras, etc. Esse é rastro que vai ficando pra trás daqueles que insistem em desfazer a existência do Criador.

Valeu Ricardo - o Senhor continue lhe carregabdo nos braços. Estou curioso para ler o livro de McGrath.

Shalom
Evandro Gueiros
Evandro

Salomão Soares disse...

Ricardo,

Prezado amigo, no meu último comentário sobre "Defesa de Deus" só tentei exprimir o que penso quando vejo homens tentando defender aquele que não necessita de defesa. Concordo com você, quem na verdade precisa de defesa são nossas crenças expressadas perante nossa sociedade, ou seja, nossa fé, muitas vezes precisando de respostas contra afrontas e não Deus.

Só vejo a linha que separa estas duas ideias muito tênue e frágil possibilitando na relutância de alguns de se levantarem como defensores do altíssimo. Contudo não há como discordar de você. Parabéns pelas linhas.

Abraços MIL.
Do seguidor e amigo.

Ricardo B. Marques disse...

Prezado Fernando:

Respeito sua opinião, que, se leu todo o artigo, sabe ser a mesma que eu tinha sobre Dawkins quando me limitava ao reducionismo produzido pelo dogmatismo científico. Todo dogmático, cientista ou não, disfarça sua arrogância e intolerância sob o discurso do "não sabemos tudo", "vivemos pela dúvida" e coisas assim. No entanto, tal discurso é mero sofisma, usado no intuito de enganar o público em relação à verdadeira postura rígida e intolerante que adotam. A genialidade de Dawkins é um fato, e jamais a neguei - digo isso no artigo. Porém, ser "gênio" não faz com que ele esteja certo em suas posturas e assertivas. Se assim o fossem, teríamos problemas com outros gênios que crêem e dizem o contrário do que Dawkins tem dito. O dogmatismo exagerado de Dawkins e da casta incauta de seguidores que o idolatram como a um messias de uma falsamente chamada ciência (que, na verdade, é pura especulação filosófica, nada mais) é facilmente perceptível em seus escritos e falas, e tem sido combatido por cientistas cujo quilate, seja em termos de formação, seja em inteligência, seja em produção científica, deixa nosso Dawkins numa situação difícil. Agora, enxergar e admitir isso é questão de fórum íntimo, que passa por princípios como conhecimento, coerência e honestidade - e, convenhamos, cada vez mais temos menos pessoas assim no mundo. No meio acadêmico, parece ser mais raro ainda, amigo...

Fique em paz.

Ricardo.