segunda-feira, 12 de julho de 2010

A forma do mundo

Postado em 9 de julho de 2009 por Ricardo Marques, em http://blog.opovo.com.br/cotidianoefe/categoria/artigos-ricardo-b-marques/page/2/


Após viverem por quase 10 anos nos Estados Unidos, uma cunhada retornou com seu esposo e um filhinho. Tanto tempo longe do Brasil, mergulhados numa cultura e estilo de vida bem diferente, era prenúncio de que eles sofreriam algum nível de choque cultural. Não deu outra.

Às vezes me pego rindo das reações deles, naturais e esperadas. Mas rindo não por deixar de levá-los a sério, e sim por dar-me conta do quão absurda é, de fato, uma parte da nossa realidade brasileira e nordestina.

Sou inveterado admirador da minha pátria, em especial do Nordeste e de grande parte da nossa cultura, personalidade e humor; do espírito alegre, criativo, hospitaleiro e, acima de tudo, batalhador e incansável que nos é peculiar – sem falar numa curiosa “inteligência acadêmica” que faz dos cearenses destaques por onde quer que andemos nesse mundo de meu Deus. Contudo… É evidente que há outra parte da qual me envergonho. E é esta a que assusta pessoas que vêm de outras bandas, onde os defeitos são outros.

Com razão, minha cunhada e seu esposo gaúcho se espantam com aspectos

bizarros de nossa cultura local. “Olha só, eles jogam lixo na rua!”… “Valha, tem gente aqui que anda de carro sem cinto de segurança!”… “Como é que pode? O cara furou a fila!”… São exemplos de exclamações quase diárias. E compreensíveis.

Afinal, aqui temos convivido com lixo – muito lixo – se acumulando nas ruas e calçadas, enquanto a população morre de calazar e dengue. Na Fortaleza Bela as ruas são esburacadas; o asfalto é todo remendado; os esgotos transbordam; muros, viadutos, casas, prédios, lojas, tudo pichado; gente maluca circula em automóveis com caixas de som gigantes, explodindo nossos tímpanos (e com música da pior qualidade); nos restaurantes conversa-se aos gritos, misturados à zoada de aparelhos de TV que não deveriam estar ali; meninas se prostituem nas áreas turísticas, debaixo do nariz dos vereadores, deputados e senadores que juraram combater tal desgraça; o crack se espalha a olhos vistos; motoristas descumprem as mais elementares regras de trânsito, correm, costuram, avançam, põem inocentes em risco e ainda se acham “ases do volante”; as loucuras no trânsito se agravam, mas não se vê guardas de trânsito em lugar algum, exceto fazendo ronda nas áreas de estacionamento proibido; faltam remédios e médicos em postos de saúde, vagas em escolas e leitos em hospitais, enquanto milhões de reais são gastos com Fortal, Parada Gay, shows; apinham-se prédios altos em ruas estreitas, sem que haja um estudo do fluxo de veículos na área, que logo se torna intransitável; as praias estão cada vez mais urbanizadas, perdendo sua atratividade turística e depois se reclama que o único turismo que cresce aqui é o sexual…

Costumo ser atento e crítico, porém admito que estava precisando de uma chacoalhada para me despertar da tendência humana em se conformar com o que não presta. Passa o tempo e a gente começa a se amoldar, achando que “é assim mesmo”, diminuindo nossas atitudes de resistência ao mal. Presenciar o espanto de pessoas de fora ao se depararem com o “lado negro” da nossa cultura nos alerta para a verdade bíblica expressa pelo apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, 12:2 – “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Não tomar a forma desse sistema mundano. Transformar-se, renovando a mente, experimentando a vontade de Deus. Sim, eu quero isso… Quero ser transformado e ser um agente de transformação. E você?

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